Produção industrial recua 0,4% em junho após quatro meses de alta
02/08/2022

Após quatro meses consecutivos de resultados positivos, a
produção industrial recuou 0,4% na passagem de maio para junho. A última queda
da indústria havia sido registrada em janeiro deste ano (-1,9%). No primeiro
semestre, o setor acumula queda de 2,2% e, em 12 meses, de 2,8%. Os dados são
da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada hoje (2) pelo IBGE.
“A indústria não havia recuperado a perda de janeiro (-1,9%)
mesmo com os quatro meses de crescimento em sequência, período em que houve
alta acumulada de 1,8%. Com o resultado de junho, há uma acentuação do saldo
negativo no ano (-0,5%) quando comparado com o patamar de dezembro de 2021.
Isso reflete as dificuldades que o setor industrial permanece enfrentando, como
o aumento nos custos de produção e a restrição de acesso a insumos e
componentes para a produção de bem final. Nesse sentido, o comportamento da
atividade industrial tem sido marcado por paralisações das plantas industriais,
reduções de jornada de trabalho e concessão de férias coletivas”, explica o
gerente da pesquisa, André Macedo.
O pesquisador também cita alguns fatores que têm impactado
negativamente a indústria sob a ótica da demanda. “Há a taxa de juros elevada,
a inflação que segue em patamares altos, a diminuição da renda das famílias e,
ainda que a taxa de desocupação venha caindo nos últimos meses, há um
contingente de aproximadamente 10 milhões de desempregados no país. A
característica dos postos de trabalho que estão sendo criados aponta para uma
precarização do mercado de trabalho e isso é refletido na massa de rendimento,
que não está crescendo. Todos esses aspectos são fatos importantes na nossa
análise e ajudam a explicar esse saldo negativo do setor industrial”, analisa.
Com o resultado de junho, o setor ainda se encontra 1,5%
abaixo do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020, e 18,0% abaixo
do nível recorde, alcançado em maio de 2011. A variação negativa em comparação
a maio foi disseminada pela maioria das atividades econômicas investigadas pela
pesquisa. Entre elas, a maior influência veio do setor de produtos
farmoquímicos e farmacêuticos (-14,1%), que havia acumulado alta de 5,3% nos
dois meses anteriores.
“Há nesse segmento uma maior volatilidade de taxas. No
início do ano, houve queda na produção dos produtos farmoquímicos e
farmacêuticos e, em abril e maio, ocorreu essa alta. Com o crescimento
acumulado, o segmento tinha uma base de comparação mais elevada, o que
justifica essa retração de dois dígitos”, diz Macedo.
Outro impacto importante no resultado de junho veio do
segmento de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,3%),
que também se expandiu em abril e maio, acumulando no período aumento de 5,0%.
“Nessa atividade, os itens que mais impactaram negativamente foram o álcool e
os derivados do petróleo. Mas, mesmo com essa queda, esse segmento opera 4,5%
acima do patamar pré-pandemia, ou seja, tem um comportamento distinto da média
da indústria”, ressalta.
Também contribuíram para o resultado negativo do setor as
atividades de máquinas e equipamentos (-2,0%), de metalurgia (-1,8%), de
equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,8%) e de outros
equipamentos de transporte (-5,5%).
Nove atividades se expandiram na comparação com o mês
anterior. As que mais influenciaram o resultado geral da indústria, no campo
positivo, foram as de produção de veículos automotores, reboques e carrocerias
(6,1%) e de indústrias extrativas (1,9%). “O setor de veículos acentuou o
crescimento verificado em maio (3,8%), mas essa alta não conseguiu eliminar as
perdas anteriores. O saldo dessa atividade ainda é negativo, uma vez que ela
ainda está 8,5% abaixo do patamar pré-pandemia”, completa o gerente da
pesquisa.
“Em relação às indústrias extrativas, o avanço compensa a
perda do mês anterior. Esse crescimento foi pressionado por um maior ritmo na
extração do minério de ferro. Antes da queda de maio, o setor extrativo teve
três meses de taxas positivas, acumulando expansão de 6,5%”, avalia.
Os segmentos de celulose, papel e produtos de papel (4,5%),
de confecção de artigos do vestuário e acessórios (7,1%), de produtos
alimentícios (0,6%) e de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene
pessoal (4,3%) também avançaram em junho.
Três das quatro grandes categorias econômicas recuaram frente
a maio. A maior queda foi registrada pelo setor produtor de bens de capital
(-1,5%), depois de avançar 7,5% no mês anterior. O setor de bens intermediários
(-0,8%) recuou pelo segundo mês seguido, acumulando perda de 2,3%. Já os bens
de consumo semi e não duráveis (-0,7%) interromperam dois meses de crescimento,
período em que acumularam alta de 2,8%. O único avanço em junho foi do segmento
de bens de consumo duráveis (6,4%), que intensificou a expansão do mês anterior
(4,1%).
Indústria recua 0,5%
frente a junho do ano passado
Na comparação com o mesmo período de 2021, o recuo do setor
industrial foi de 0,5%, com disseminação de resultados negativos em 14 dos 26
ramos investigados pela PIM. As indústrias extrativas (-5,4%) exerceram a
principal influência negativa nesse resultado, pressionadas pela queda na
fabricação de óleos brutos de petróleo e minérios de ferro. Também impactaram o
índice as atividades de metalurgia (-8,3%) e produtos farmoquímicos e
farmacêuticos (-19,6%).
Outras contribuições negativas vieram dos segmentos de
produtos de minerais não metálicos (-6,9%), de produtos de metal (-6,0%), de
outros produtos químicos (-2,6%) e de máquinas, aparelhos e materiais elétricos
(-6,3%). Outros recuos significativos foram registrados pelos ramos de produtos
de borracha e de material plástico (-3,4%), de produtos têxteis (-8,3%), de
produtos de madeira (-8,4%), de móveis (-9,3%) e de produtos diversos (-8,3%).
As maiores influências entre as doze atividades que
apontaram expansão na produção foram dos segmentos de coque, produtos derivados
do petróleo e biocombustíveis (8,6%) e veículos automotores, reboques e
carrocerias (5,9%). A maior produção de óleo diesel, óleos combustíveis e
naftas para petroquímica influenciou o crescimento do primeiro setor. No caso
da atividade de veículos, a alta foi relacionada à expansão na produção de
automóveis e caminhão-trator para reboques e semirreboques.
“Há uma volta para o campo negativo, depois de o resultado
de maio ter interrompido nove meses seguidos de queda nesse indicador. Nessa
comparação com o mesmo período do ano anterior, também há a marca do
espalhamento de quedas entre as atividades investigadas. Mas, apesar do recuo
de junho, a intensidade da queda vem se tornando menor: no primeiro trimestre
do ano, havia uma perda acumulada de 4,4% e, no primeiro semestre, a queda é de
2,2%. Essa diminuição da magnitude das perdas é observada também em todas as
grandes categorias econômicas”, diz Macedo.
Mais sobre a pesquisa
A PIM Brasil produz indicadores de curto prazo desde a
década de 1970 relativos ao comportamento do produto real das indústrias
extrativa e de transformação. A partir de maio de 2014, teve início a
divulgação da nova série de índices mensais da produção industrial, após uma
reformulação para atualizar a amostra de atividades, produtos e informantes;
elaborar uma nova estrutura de ponderação dos índices com base em estatísticas
industriais mais recentes, de forma a integrar-se às necessidades do projeto de
implantação da Série de Contas Nacionais - referência 2010; e adotar as novas
classificações, de atividades e produtos, usadas pelas demais pesquisas da
indústria a partir de 2007, quais sejam: a Classificação Nacional de Atividades
Econômicas - CNAE 2.0 e a Lista de Produtos da Indústria - PRODLIST-Indústria.
Fonte e Foto: Agência IBGE