Com seca do BNDES, debêntures despontam como aposta para 2018

23/01/2018

À medida que as empresas buscam outras fontes de financiamento de longo prazo, após o freio nos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as debêntures despontam como uma das apostas para 2018. Com mais ofertas, a tendência é que os investidores consigam retornos melhores. O risco, porém, tende a aumentar na mesma proporção.

Érika Lacreta, gerente de Representação Institucional da Anbima, explica que o retorno desses títulos está atrelado ao risco, ao prazo de vencimento – geralmente longo – e às garantias oferecidas pelas empresas. Porém, o aumento da quantidade de emissores pode trazer uma competição maior, levando companhias a pagar juros mais altos. A remuneração média das debêntures em 2017, segundo a Anbima, foi de 106,4% do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic), mas alguns desses títulos ofereceram retorno de até 150% da taxa. É possível investir a partir de R$ 1 mil.

 

“Está na cara que o investidor vai ter de tomar mais risco”, resume Marcio Cardoso, presidente da Easynvest. A plataforma passou a oferecer debêntures em 2016, quando as aplicações foram de R$ 30 milhões. Já em 2017, foram investidos R$ 350 milhões. 

 

Riscos. O economista Marcelo Grande começou a investir em debêntures no fim do ano passado em busca de retornos maiores do que os de outras aplicações de renda fixa. A maior preocupação foi pesquisar as características da empresa – já que, diferentemente da maioria dos papéis de renda fixa, as debêntures não contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), de até R$ 250 mil por instituição bancária. Ou seja: se a empresa quebrar, o investidor terá de amargar o prejuízo. À época, Marcelo optou pela Cemig. “Ela não está bem financeiramente, mas é uma empresa importante para o Estado de Minas.” A rentabilidade era de 10% de ganho real (acima da inflação).

 

Investidor experiente, Wlado Teixeira Nunes alerta ainda sobre outro risco inerente a esse título: a liquidez. “Se precisar vender o papel no meio do caminho, pode haver um deságio gigante. O mercado secundário de títulos no Brasil é quase inexistente.”

 

Títulos de renda fixa, as debêntures são instrumentos que as empresas utilizam para captar recursos no mercado. Antes, as companhias encontravam taxas bastante atrativas no BNDES, mas, com a torneira do banco de fomento se fechando e o alto custo do capital de giro cobrado pelos bancos, especialistas acreditam que as debêntures devem assumir um peso maior – abrindo também oportunidades para quem quer diversificar seus investimentos.

 

No ano passado, as emissões de debêntures somaram R$ 88,2 bilhões – um salto de 45% em relação a 2016, segundo a Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima). Desse total, 10% foram debêntures incentivadas, que, por financiarem projetos de infraestrutura, são isentas de Imposto de Renda.

 

Fonte: Estadão