Celulares, tablets e TVs devem ser liberados para crianças? Especialistas dão cinco dicas do que é certo ou errado

26/05/2017


Manter as crianças pequenas totalmente distantes de TV, tablet e celular é praticamente impossível. O G1 conversou com profissionais de saúde e de psicologia e selecionou orientações e cuidados para que o contato com gadgets não prejudique, sobretudo, as crianças de 0 a 4 anos.

 

Abaixo, veja respostas para as seguintes questões:

Existe idade certa para uso dos dispositivos móveis?

O que bebês e crianças podem assistir?

É preciso estabelecer limites e regras de uso?

Quais os possíveis prejuízos?

Telas combinam com educação sentimental?

 

Existe idade certa? Até 1 ano, muita cautela

Os pais costumam ficar em dúvida sobre quando apresentar as tecnologias aos filhos. Não existe uma idade certa para que isso ocorra, mas há diretrizes de órgãos internacionais de saúde que podem ajudar a família a tomar essa decisão.

 

A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomendava, desde 1999, que o contato com telas não ocorresse antes dos 2 anos. Isso porque, de acordo com o instituto, bebês nesta faixa etária teriam mais perdas do que ganhos ao usar tablets, televisão e celulares. Crianças de 12 a 18 meses aprendem com experiências vivas e não com vídeos, de acordo com AAP.

 

Em novembro de 2016, a Academia anunciou uma revisão destas normas. A nova recomendação é que bebês de até 18 meses não tenham contato com telas e que, dos 2 aos 5 anos, o limite seja de uma hora diária. O órgão reforça que não deve existir pressa em apresentar as tecnologias - “elas são fáceis de usar e ninguém vai ficar para trás por só conhecê-las mais para frente", afirma o texto.

 

A mudança de postura vem ao encontro uma realidade enfrentada atualmente: é muito difícil conseguir se manter distante dos gadgets. Seja na fila de espera do pronto-socorro ou na casa dos tios, a televisão, o tablet e os celulares estarão presentes. Tentar manter as crianças totalmente blindadas a isso vai exigir muito esforço e vigilância dos pais.

 

Mesmo assim, especialistas defendem que o contato constante com telas não deve ocorrer tão cedo. É possível que os pais adiem a compra de um tablet para o filho, por exemplo. Ou que não apresentem um joguinho de celular para ele.

 

A oftalmologista Pérola Grupenmacher, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), não recomenda que crianças menores usem celulares e tablets. Ela explica que a visão só se desenvolve por completo por volta dos 7 anos. Até lá, o uso abusivo de gadgets pode trazer problemas.

 

“Olhar para telas muito pequenas por tempo prolongado faz com que, se a criança tiver alguma predisposição a doença ocular, os sintomas apareçam mais cedo e em maior intensidade. É o caso de quem tem estrabismo, por exemplo”, afirma.

 

A especialista também dá uma dica: ao usar aparelhos pequenos, o ideal é fazer intervalos a cada 20 minutos. Olhar para a tela por uma hora, sem interrupção, faz com que a pessoa pisque menos e diminua a lubrificação ocular. Ou seja: os olhos podem ficar secos e isso trará coceira, vermelhidão, ardência e até dor de cabeça, pelo esforço dos músculos faciais.

 

Além disso, existe outra preocupação: o cérebro da criança de até 2 anos se desenvolve rapidamente durante esse período. E o aprendizado, de acordo com estudos recentes, acontece principalmente com interação social, não com telas. O desenvolvimento da linguagem, conforme mostra o novo documento da AAP, avança com o convívio entre pessoas. A pediatra Amira Figueiras, professora da UFPA e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), concorda: “Nessa fase, o normal é desenvolver afetividade, emoção”, afirma.

 

O neuropediatra Antonio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe, explica que o cérebro, nessa fase, é quase “in natura”. “É uma massa que está sendo moldada, formatada. Os dois primeiros anos são um período crucial para circuitos de linguagem, discriminação de fonemas, formas. É um período intenso. O estímulo mais importante é o concreto. A partir do que ela vê, pega, cheira, sente, vai desenvolvendo a capacidade de imaginar”, afirma.

 

O bebê ganhará mais explorando o mundo com as mãos e com os olhos, trabalhando a coordenação motora, descobrindo os objetos à sua volta. A tela, mostrando tudo em duas dimensões, não traz os mesmos benefícios de experiências motoras e sensoriais. A AAP afirma que, até os 2 anos completos, o bebê não desenvolveu a capacidade de entender que símbolos da TV, por exemplo, representam algo da vida real.

 

Conhecer os animais pelos jogos do tablet ou pelo desenho animado não deve substituir a experiência de vê-los de perto. “A criança pode ter a informação de que um leão ruge e um cachorro faz auau. Mas o conhecimento é mais amplo, envolve experiência, contato”, diz Calegari. “Ela pode passar a mão no cão e sentir que ele é peludo, perceber que a língua dele é lisa e quente, enquanto a do gato é áspera. O conhecimento é feito de vivência”, completa. Os pais podem aproveitar para levar os filhos ao zoológico ou passear no quarteirão e ver que bichos encontra – o joguinho deve ser só um complemento, não o principal.

 

Seja aos 2 anos ou quando a família decidir que já pode apresentar gadgets às crianças, é hora de pensar em que tipo de produto elas podem consumir. Figueiras diz que os pais devem fazer uma análise prévia de tudo. “A tecnologia pode ser boa, existem até aplicativos que ajudam no desenvolvimento de crianças com deficiência. Mas tudo precisa ser dosado e ter acompanhamento de um adulto”, complementa a pediatra.

 

O mais importante é analisar, antes de apresentar à