Campanha do Metrô de SP contra abuso sexual tem 79% de aprovação

15/12/2015

A campanha contra o abuso sexual realizada pelo Metrô de São Paulo foi bem recebida pelo público, segundo Pesquisa de Avaliação interna da empresa: 4 em cada 5 usuários aprovam a ação e 90% dos usuários se sentiram representados pelas peças. A campanha está presente nos trens e estações desde agosto de 2015 e tem como tema a frase “Você não está sozinha”.

 

A pesquisa, à qual este blog teve acesso, traz resultados animadores de modo geral:

• 83% dos entrevistados lembraram espontaneamente da campanha;

• 92% dos entrevistados acreditam que as pessoas irão denunciar mais os casos de abuso sexual;

• 82% acreditam que, com a ação, os casos de abuso irão diminuir;

• Mais de 70% dos usuários que avaliaram a campanha se sentiram mais à vontade para, pessoalmente, denunciar os casos de abuso sexual. E foi significativa a porcentagem dos que descobriram que o SMS-Denúncia também serve para relatar casos de abuso.

 

A mensagem mais lembrada pelos usuários é “Denuncie”, seguida de “Você não está sozinha”. Procurar algum empregado do metrô ou pedir ajuda aos demais usuários foram as ações mais citadas pelos entrevistados quando perguntados sobre o que deveriam fazer em caso de abuso sexual. Para o Metrô, isso demonstra que as mensagens da campanha tiveram um bom alcance.

 

Um dos maiores objetivos da ação era aumentar o número de registros dos casos de assédio e abuso sexual, já que o número de denúncias ainda não representa o número real de casos. Em 2013, foram registrados apenas 10 ocorrências de abuso sexual nas dependências do Metrô, número que passou para 61 em 2014 e 115 até outubro de 2015.

 

Há uma série de entraves culturais que desestimulam as vítimas a registrar a violência sofrida, como a culpabilização da mulher e o constrangimento vindo principalmente de agentes que deveriam dar o suporte necessário após o ocorrido. Há ainda a dificuldade em identificar o agressor, em conhecer meios de denúncia e, é claro, a banalização do assédio sexual, nem sempre entendido como violência – realidade que felizmente está mudando.

Peças

 

As cinco peças da campanha também foram avaliadas pelos usuários, que elegeram a dos seguranças uniformizados como a que chamou mais a atenção. O motivo: mostra profissionais fiscalizando, com autoridade e demonstrando que há a quem recorrer em situações de abuso.

 

A segunda mais bem avaliada pelos usuários é a peça que exibe quatro mulheres unidas – esta blogueira inclusa. Os pontos destacados foram a união das mulheres contra o abuso e o fato de criar identificação com as vítimas: são mulheres comuns e com diversidade entre elas.

 

Destaca-se também a boa avaliação do cartaz que exibe usuários filmando o crime, pois lembra que a ação pode ser registrada e que há pessoas atentas para a questão. A derrapada fica com a peça dos seguranças à paisana, que teve a pior avaliação pelos usuários. Não à toa: ela não deixa claro que os homens se tratam de seguranças disfarçados e peca em não representar mulheres. Além de tudo, passou a ideia de homens intimidadores. Foi uma bola que o movimento feminista já tinha cantado quando a campanha começou a circular.

 

Estive envolvida em toda a discussão do assédio e abuso sexual com o Metrô de São Paulo (relatos aqui e aqui). Por isso comemoro os dados da pesquisa realizada pela empresa. A violência sexual é um problema grave e recorrente no transporte público. É muito bom saber que agora ela ganha visibilidade e surgem iniciativas para combatê-la, não só do Metrô de São Paulo.

 

Mas nem tudo são flores: mudar uma cultura leva tempo e precisamos, enquanto sociedade, pressionar para que a questão não saia de pauta. Nossos direitos – de viver sem violência, de ocupar o espaço público – não podem ser nunca ameaçados ou relativizados. Cartazes nos trens ajudam e muito a combater o assédio, mas não fazem tudo. São ineficazes se a equipe de apoio não acolher a vítima, se não houver uma empresa e uma cultura verdadeiramente comprometidas com a causa. Não é só denunciar. É um começo, mas ainda há muito a ser feito.

 

Fonte: Estadão