Crise chega aos carros importados e vendas caem pela metade em cinco anos

07/12/2015

A conjuntura econômica dos últimos tempos tem sido refletida com impacto nos resultados da indústria automotiva de importados. O resultado disso é que as vendas de janeiro a novembro caíram pela metade nos últimos cinco anos: os 375.791 licenciamentos de veículos leves em 2015 representam 50,6% dos 760.175 registrados em 2011. Os números são das estatísticas mensais da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que divulgou a última edição nesta sexta-feira (4).

 

O pior resultado no acumulado do período citado também é observado na comparação com o mês anterior. Novembro apresentou queda de 41% em relação ao volume de vendas de outubro: 28.117 licenciamentos contra 47.728.

 

O retrato observado – uma desaceleração paulatina ao longo dos anos – pode ser explicado por uma série de fatores. Entre as principais causas está o término da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), de volta ao patamar de 2011 (11%), em situações econômicas adversas. Além disso, segundo o consultor automotivo Leandro Mattera, há a questão do decreto Inovar Auto, de 2012, que estipulou um acréscimo de 30% sobre o IPI para importados. “O  primeiro ponto é esse [o decreto], que prejudicou quem não tinha fábricas no Brasil. Marcas que foram chegando, principalmente de Coreia e China, que embalaram e sofreram muito com isso”, diz, citando como exemplo a Jac Motors e a Kia.

 

Além desse ponto específico, o fim do acordo com o México também neste período e o restante do cenário econômico terminam de justificar as perdas do segmento no setor. “A alta do IPI, o dólar valorizado, o Inovar Auto, a alta nos juros, a redução do poder de compra do consumidor...é um somatório de fatores”, acrescenta Mattera.

 

Ainda sobre a questão da tributação de 30% sobre o IPI, algumas montadoras estão conseguindo driblá-la por meio de parcerias e Joint Ventures. Dois exemplos do que se pode chamar de pontos fora da curva são as estrangeiras Subaru e Hyundai, que no Brasil são representadas pela CAOA – que trabalha ainda com a comercialização de automóveis da Ford.

 

Mercado premium deve ficar ainda mais premium

O movimento nas concessionárias premium no Brasil continua positivo, mas cresceu menos. Em 2015, essa fatia que representa apenas cerca de 2% do mercado “começou a andar de lado”, segundo Henning Dornbusch, presidente da Eurobike, uma das maiores concessionárias de carros para a classe AAA em São Paulo. “Não mexemos no preço dos carros [mesmo com a variação cambial], que vem principalmente de Estados Unidos e Europa. Desacelerou, mas neste ano o impacto não foi grave”, explicou.

 

Dornbusch conta que grande parte do crescimento nos últimos anos, cerca de 60%, veio da demanda por carros de entrada, ou seja, com valores próximos a casa dos R$ 90 mil. Foi neste recorte que a sensação de desaceleração chegou mais forte, apesar de a saída de veículos com valor acima de R$ 300 mil ter apresentado uma pequena recuada.

 

“O ano que vem promete ser pior, é uma incógnita. Quer quer sobreviver tem que se preparar com choque de gestão  e governança”, explicou, destacando que o foco todo da Eurobike está na maior eficiência dos processos e no trabalho da margem de venda, agora mais apertada. “Trabalhamos em muitos modelos com preços iguais ao que se paga lá fora, mas tudo indica que não vai dar para manter no ano que vem, que será um ano mais complicado”

 

Fonte: IG