Número de fugas da Fundação Casa, em SP, em 2015 é o maior dos últimos dez anos

01/12/2015

Sem alarde, um grupo de 33 internos da Fundação Casa conseguiu fugir em setembro da unidade Vila Conceição, na zona leste de São Paulo, sem que os funcionários percebessem. O mesmo havia ocorrido três meses antes, quando 29 adolescentes escaparam do local.

 

Casos como esses não ocorriam com tanta frequência no Estado de São Paulo há dez anos. Segundo os registros da própria Fundação Casa, 528 internos fugiram das 150 unidades espalhadas por todo o Estado entre janeiro e setembro deste ano.

 

Esse número faz de 2015, em apenas nove meses, o ano com maior número de fugas desde 2005, quando 775 adolescentes conseguiram transpor os muros dos centros de internação.

 

De acordo com o vice-presidente da Fundação Casa, Claudio Piteri, o aumento no número de fugas ocorre porque as unidades estão operando com um "número elevado de internos".

 

"Isso traz uma situação momentânea que não é a ideal dentro dos centros de internação, mas o percentual de fugas no ano não foge muito da nossa média histórica", explica.

 

A "média histórica" a qual Piteri se refere diz respeito a quanto que o número de fugitivos representa do total de internos do sistema.

 

Os 528 jovens e adolescentes que conseguiram escapar das unidades da Fundação Casa equivalem a 1,95% do total de entradas no mesmo período. Nos últimos três anos, esse índice foi de 1,32% (2012), 1,34% (2013) e 1,13% (2014).

 

O vice-presidente da Fundação Casa também invoca a "média histórica" para justificar o baixo percentual de fugitivos recapturados. Apenas 131 jovens e adolescentes retornaram ao sistema após terem escapado dos centros de internação neste ano, número que representa 25% do total de fugas no período.

 

Para João Faustino, diretor do Sitraemfa, sindicato que representa os funcionários da Fundação Casa, o principal motivo para o aumento no número de fugas é a falta de funcionários nas unidades.

 

"A precariedade do trabalho está fazendo muitos funcionários adoecerem, daí eles precisam ser afastados e o sistema fica mais frágil. É aí que os adolescentes tentam a sorte", comenta.

 

Rebeliões

A Fundação Casa não dispõe de números absolutos de rebeliões ocorridas em 2015. Segundo informou a assessoria de imprensa da instituição, isso se deve ao fato de existirem "diferentes classificações" para as confusões que acontecem dentro dos centros de internação. Desse modo, situações semelhantes podem ser consideradas "rebelião" pela direção de certa unidade, enquanto a diretoria de outro centro classificaria o mesmo episódio como "tumulto".

 

Já o diretor do Sitraemfa prefere adotar somente o termo "rebelião" para se referir aos casos de desordem na Fundação Casa. Segundo ele, assim como o número de fugas, a frequência com que ocorrem rebeliões nos centros de internação para adolescentes infratores também aumentou em 2015.

 

"Você imagina um pátio com 60 adolescentes e três funcionários. Os internos percebem essa fragilidade. Toda dia tem rebelião dentro das unidades, esses problemas são diários. E a tendência é piorar agora no fim do ano, com o Natal e o Ano Novo chegando. Vai ser um Deus nos acuda", afirma.

 

Questionado sobre a possibilidade de as confusões e fugas aumentarem com a proximidade das festas de fim de ano, o vice-presidente da Fundação Casa assegurou que os procedimentos de segurança já adotados são suficientes para qualquer época do ano.

 

"Temos essa situação de alguns funcionários afastados, mas nosso quadro de servidores é fixo e nossos procedimentos de segurança serão mantidos. Vamos adotar as mesmas ações para tentar minimizar nossos problemas", defende Piteri.

 

Fonte: Estadão