Inflação no Brasil cai em relação à mundial, mas ainda está forte por causa de bens
08/09/2022

Preços de serviços também começaram a acelerar e entram no
radar do BC
A queda nos preços dos combustíveis ajudou a inflação ao
consumidor no Brasil a se aproximar da média das maiores economias
desenvolvidas e emergentes, algo que não ocorria há dois anos, segundo
levantamento do banco UBS BB.
O país ainda sofre, no entanto, uma forte pressão dos preços
de bens industriais, e a inflação de serviços também ressurgiu como fator de
preocupação, após dois anos rodando abaixo da média de 13 economias analisadas
pela instituição financeira. Entre elas, EUA, Zona do Euro, México, Índia,
Rússia e Chile.
Desde julho de 2020, a inflação acumulada em 12 meses no
Brasil se mantém acima da média dessas economias. Somente em abril deste ano
essa diferença começou a cair de forma consistente. Depois de chegar ao pico de
5,62 pontos percentuais em setembro do ano passado, estava em 0,92 ponto em
julho deste ano.
A expectativa do UBS BB é que o IPCA (índice de preços ao
consumidor) retorne a essa média até o final de 2022. Com isso, depois de
terminar 2021 com a maior inflação nesse grupo, o Brasil deve ficar à frente
apenas do Canadá e próximo de EUA e África do Sul neste ano.
No ano passado, boa parte dessa diferença foi explicada
pelos preços de energia elétrica e combustíveis, que atualmente estão abaixo
dessa média, após o fim da bandeira de escassez hídrica, com a cobrança
adicional na conta de luz de consumidores e empresas, e medidas adotadas pelo
governo para reduzir o preço de combustíveis e os tributos sobre esses itens
durante o período eleitoral.
Os alimentos estão entre os vilões da inflação brasileira
desde 2020, mas hoje estão em linha com a média dos países analisados. A
expectativa do mercado é uma desinflação desses itens, na esteira da
desvalorização recente dos preços de commodities como soja, trigo e milho.
Internamente, no entanto, o item ainda pesa no orçamento do brasileiro,
principalmente dos mais pobres.
Um terceiro componente dessa inflação mais elevada foram os
bens, que atualmente são os principais responsáveis por um IPCA ainda mais
elevado por aqui, embora essa diferença tenha parado de crescer. A inflação de
serviços, que ficou abaixo da média por cerca de dois anos, agora começa a
chegar de forma mais forte no Brasil.
"Os vilões [da inflação] foram alimentos e energia.
Agora, vão ser os grandes heróis para deixar a gente melhor do que o
resto", afirma Alexandre de Ázara, economista-chefe do UBS BB.
Em apresentação recente, o presidente do Banco Central,
Roberto Campos Neto, mostrou que o Brasil tem a menor inflação de energia entre
dez economias que também estão na amostra do UBS BB. Ainda tem preços mais
elevados de alimentos do que México, África do Sul e Índia. E está entre os
maiores índices de inflação entre emergentes quando se considera apenas bens e
serviços. Por isso, ele avalia que ainda não é hora de cortar os juros.
Em 2021, os bens industriais foram os itens que mais
contribuíram para a inflação no Brasil, como apontado pelo BC na carta em que
justificou o estouro da meta daquele ano, destacando a alta dos preços de
veículos novos e usados e dos eletroeletrônicos.
Nos dois primeiros anos da pandemia, houve aumento na
procura por bens industriais, queda na oferta e problemas de suprimento de
insumos e aumento no custo de produção. No Brasil, a situação foi agravada por
fatores como depreciação do câmbio, energia elétrica mais cara e distância dos
mercados produtores.
André Braz, coordenador-adjunto do Índice de Preços ao
Consumidor da FGV, afirma que o país sofreu mais com os gargalos da cadeia
produtiva mundial. Ele também cita como exemplo a falta de chips para
fabricação de veículos, que elevou os preços de automóveis novos e usados.
"Em outros países, esses gargalos foram resolvidos mais
rapidamente. Para a gente durou mais", afirma Braz.
O economista-chefe do UBS BB avalia que a normalização dessa
situação deve contribuir para uma queda mais forte da inflação no Brasil em
relação a outras economias. "Todo mundo queria comprar bens, tivemos
problemas de cadeia produtiva, os preços subiram. EUA e Brasil foram os que
mais sofreram. Agora começou a normalizar nos EUA e vai normalizar no
Brasil", afirma Ázara.
Dados coletados pela OCDE mostram que o Brasil tinha a
terceira maior inflação ao consumidor entre 44 países em julho de 2021. Com o
dado esperado para agosto, em torno de 8,5% em 12 meses, deve ficar próximo da
25ª posição, ao lado dos EUA, e terminar o ano nesse patamar
Fonte e Foto: Folha de São Paulo