Varíola dos macacos: saiba como prevenir e reduzir o risco de transmissão
03/08/2022

Especialistas apontam que evitar contato íntimo com
contaminados é principal medida de prevenção, mas uso de máscara em ambientes
fechados e higienização de mãos também podem ajudar
O contato íntimo - que inclui relações sexuais -, de pele
com pele, com lesões de pessoas contaminadas, é apontado como a principal forma
de transmissão da varíola dos macacos no surto atual, conforme especialistas.
Beijar, abraçar e, principalmente, ter relações sexuais com pessoas com
diagnóstico positivo, são consideradas atividades de risco e devem ser
evitadas.
Porém, medidas como uso de máscaras e preservativos,
higienização de mãos e o não compartilhamento dos chamados fômites (objetos
capazes de transportar patógenos, como lençóis e toalhas) também podem ajudar a
evitar a contaminação. Isso porque, explicam, outras formas de transmissão são
conhecidas ou estão sendo estudadas.
Crianças com menos de oito anos, gestantes e imunodeprimidos
- pessoas que passaram por transplante, em tratamento oncológico ou que tiveram
diagnóstico positivo para HIV, por exemplo -devem ter cuidados redobrados, uma
vez que são mais suscetíveis a quadros graves da doença. Alguns especialistas
também indicam que homens que fazem sexo com homens (HSH) também precisam estar
atentos, visto o risco de exposição. Conforme dados da Organização Mundial da
Saúde (OMS), eles representam 98% dos casos.
Por ora, a OMS não recomenda vacinação em massa,
principalmente pela indisponibilidade de imunizantes. Os especialistas ouvidos
pelo Estadão concordam com a orientação e apontam que alguns grupos deveriam
ser priorizados em uma fila de vacinação, como profissionais que manipulam
vírus em laboratório e contatos de pessoas com diagnóstico positivo.
Testar casos suspeitos e obter diagnósticos com agilidade é
crucial para controlar a doença, defendem os profissionais de saúde. Só deve
buscar testagem, orientam, pessoas que apresentem erupções cutâneas. O único
teste disponível é de biologia molecular - mesmo método do teste PCR para o
coronavírus - e depende de secreções dessas lesões, coletadas com swab
(bastão), para análise.
Os especialistas destacam que os conhecimentos em relação à
doença têm mudado conforme surgem novas informações - de forma relativamente
semelhante ao que ocorreu com a covid-19 -, o que pode levar à atualização de
orientações. Isso porque, embora a varíola dos macacos tenha sido identificada
em humanos ainda em 1970, as características do novo surto têm se mostrado
diferentes.
Evitar contato íntimo
A infectologista Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI), destaca que, no surto atual, há quatro formas de
transmissão. “A principal delas é, sem dúvida nenhuma, o contato íntimo, de
pele com pele, com a lesão”, afirma. “A lesão transmite até que a casquinha
caia e tenha a pele boa embaixo”.
Evitar contato íntimo com pessoas contaminadas, portanto, é
a principal forma de prevenção. Parece simples, mas não é bem assim, uma vez
que reconhecer o quadro pode ser uma dificuldade. Raquel destaca que pode haver
confusão, pois as erupções na fase inicial, às vezes, parecem com espinhas ou
pelos encravados.
Também infectologista, Renato Kfouri acrescenta que dois
terços das pessoas vão apresentar menos de dez lesões - bem diferente de fotos
antigas que ilustram a doença. “Muitas vezes há demora no reconhecimento e na
suspeição de casos, e consequentemente, o número de infectados e transmissão
aumentam", diz ele, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
Reduzir atividade sexual com múltiplos parceiros
Essa dificuldade de reconhecimento leva à recomendação de
reduzir a atividade sexual com múltiplos parceiros, principalmente
desconhecidos. A OMS já fez essa recomendação a homens que fazem sexo com homens
- que representam 98% dos casos.
Os especialistas ouvidos pelo Estadão indicam que essa
mudança de comportamento sexual pode ser adotada pela população em geral para
reduzir o risco de exposição. Isso porque qualquer um pode se contaminar,
independente da orientação sexual - prova disso, apontam, os casos confirmados
de crianças, mesmo que precisem ser melhor estudados.
Não compartilhar toalhas e lençóis e lavar as mãos
Outra possível forma de transmissão se dá por meio do
compartilhamento de objetos. “É a transmissão por objetos inanimados pelos
quais se pode transmitir um vírus que é resistente no ambiente”, explica o
virologista Fernando Spilki. Por isso, é recomendado evitar o compartilhamento
de lençóis, fronhas, copos e roupas, por exemplo, principalmente com pessoas
com diagnóstico positivo.
Raquel acrescenta que também pode haver a transmissão por
meio de superfícies contaminadas. “Mas a superfície tem de estar contaminada
com a secreção da lesão.” Nesse sentido, higienizar as mãos é importante. Os
Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, orientam
que usar água e sabão ou desinfetante
(para as mãos) à base de álcool. “Especialmente antes de comer ou tocar no
rosto, e depois de usar o banheiro", diz o órgão.
Gestantes
Uma pessoa grávida pode passar o vírus ao feto por meio da
placenta, conforme o CDC. Na segunda-feira, o Ministério da Saúde publicou nota
técnica com cuidados específicos para esse grupo, que também está entre aqueles
com risco de quadro grave da varíola dos macacos. Entre os cuidados
recomendados pelo governo federal, estão o uso de máscaras em ambientes
fechados, o uso de preservativos em relações sexuais (vaginal, anal e oral) e
evitar contato com pessoas contaminadas.
Uso de máscaras
Ainda, conforme Raquel, há a possibilidade de transmissão
respiratória. O CDC informa que a frequência pela qual a doença é transmitida
por secreções respiratórias e até quando uma pessoa com sintomas pode espalhar
o vírus por essa via, são estudadas por cientistas.
Por ora, segundo Raquel, a transmissão respiratória ocorre
por meio de gotículas, que são “partículas mais leves que não alcançam grandes
distâncias”. O contato, explica, deve ser muito próximo e prolongado. Nesse
sentido, por precaução, ela acha válido o uso de máscaras em locais fechados e
de aglomeração, principalmente por crianças, gestantes e imunodeprimidos.
Uso de preservativo
Em nota técnica divulgada para gestantes, na segunda-feira,
o Ministério da Saúde recomenda o uso de preservativos. Segundo Raquel, essa
recomendação foi dada por não se saber ao certo se a varíola dos macacos pode
ser transmitida por esperma ou secreção vaginal - DNA do vírus já foi
encontrado no sêmen. Por enquanto, a doença não é considerada sexualmente
transmissível.
Kfouri fala, no entanto, que o uso de preservativo “sempre
deve ser intensificado”, uma vez que ajuda a prevenir também “outras doenças”,
como a aids, por exemplo.
Testes
Conforme o Ministério da Saúde, o Brasil indica apenas
testes de biologia molecular para diagnóstico da doença. Testes sorológicos e
de antígeno - recursos de diagnóstico rápido - ainda não estão disponíveis.
A análise é feita de amostras das feridas coletadas por swab
(bastão). Por isso, especialistas orientam que só busquem pela testagem pessoas
que estejam com feridas. Além disso, eles indicam a necessidade de expandir a
disponibilidade de testes e aumentar a agilidade de diagnósticos.
Vacinação
Há duas vacinas desenvolvidas para combater a varíola humana
(smallpox), a ACAM2000 e a MVA-BN, que se mostraram eficazes contra a
monkeypox, conforme o Ministério da Saúde. Elas ainda não estão disponíveis no
Brasil.
A OMS não recomenda a vacinação em massa contra a varíola
dos macacos, principalmente pela indisponibilidade de grandes quantidades do
imunizante. As poucas doses disponíveis, indicou o diretor-geral, Tedros
Adhanom, devem ser direcionadas a quem teve contato com pacientes da doença ou
com grande risco de exposição, como profissionais da saúde, funcionários
laboratoriais e pessoas com múltiplos parceiros sexuais.
Kfouri concorda. Aponta que, por ora, mesmo que tivéssimos
“milhões de doses”, não é o momento de imunização em massa. “A gripe mata muito
mais, por exemplo. Não faz sentido você fazer uma vacinação universal de uma
doença que tem uma letalidade baixa.” Conforme a OMS, a taxa de letalidade da
doença está entre 3% e 6%.
Raquel acrescenta que, em uma fila de vacinação, o grupo de
homens que fazem sexo com homens deve ser priorizado. A cidade de Nova York já
vacina o grupo, e o Reino Unido expediu recomendação para a priorização dele
ainda em junho.
Grupos mais
vulneráveis
Segundo a OMS, crianças, grávidas e imunodeprimidos têm
risco aumentado para casos graves da doença. Especialistas destacam que essas
pessoas precisam redobrar cuidados.
“Temos hoje dois grandes receios em relação ao que pode
acontecer em termos de óbito, e eles residem em pacientes imunossuprimidos:
pacientes HIV positivo e em tratamento de câncer ou com alguns tipos
específicos de câncer, como linfoma”, fala Spilki.
Raquel aponta que imunodeprimidos e crianças deveriam ter
sido incluídos na nota técnica para gestantes. E também destaca que a pasta
deveria emitir recomendações específicas para homens que fazem sexo com
homens. “Essas pessoas, às vezes, não
vão procurar infectologista, vão procurar urologista, proctologista, talvez
médico da família, que não estão, muitos deles, orientados sobre o momento e o
impacto dessa doença.”
Graus de risco de
exposição
Quem teve contato com pessoas que receberam diagnóstico de
varíola dos macacos - mesmo que usando equipamentos de proteção individual
(EPI) apropriados -, devem ser monitoradas e ficar atentas quanto aos sintomas
durante 21 dias após a exposição, conforme o CDC. Manifestações clínicas como
febre, arrepios e erupções cutâneas, são sinais de alerta.
O CDC classificou o grau de risco de exposição de algumas
atividades:
- Grau de exposição
alto
Contato desprotegido entre a pele ou mucosas de uma pessoa e
a pele, lesões ou fluidos corporais de um paciente com diagnóstico positivo;
contato desprotegido com materiais contaminados, como lençóis e roupas; estar
no quarto do paciente ou a menos de 1,8 m dele durante procedimento que possa
criar aerossóis de secreções orais, lesões de pele ou ressuspensão de exsudatos
secos (por exemplo, sacudir lençóis), sem usar um máscara N95 e proteção para
os olhos.
- Grau de exposição
intermediário
Ficar a menos de 1,8 m por 3 horas ou mais de paciente sem
máscara, sem usar também proteção facial; atividades que resultem em contato
entre as mangas e/ou outras partes da roupa, e as lesões de pele ou fluidos
corporais do paciente, ou seus lençóis, curativos sujos, enquanto estiver
usando luvas, mas sem avental.
- Grau de exposição
baixo/incerto
Entrar no quarto do paciente sem usar proteção para os olhos
em uma ou mais ocasiões, independentemente da duração da exposição; durante
todas as entradas na área de atendimento ao paciente, usando avental, luvas,
proteção para os olhos e, no mínimo, máscara cirúrgica; ficar a menos de 1,8 m
de um paciente sem proteção facial por menos de 3 horas, sem usar no mínimo,
uma máscara cirúrgica.
Fonte e Foto: Estadão