Forever 21 deve fechar todas as lojas no Brasil até domingo
14/06/2022
Em recuperação judicial nos EUA, empresa também enfrenta
dificuldades no Brasil; nos últimos dias, rede faz megaliquidação para queimar
estoque
Quando as primeiras unidades da rede de varejo de moda
Forever 21 abriram no Brasil, filas imensas de consumidores ávidos por roupas a
preços baixos se formaram na entrada das lojas. Agora, oito anos depois, a
marca está de saída: as araras estão quase vazias, sem produtos, e uma
liquidação com tudo pela metade do preço está em andamento para queimar o
estoque até dia 19, data em que as 15 unidades da empresa no País devem fechar
definitivamente.
No Bourbon Shopping, em São Paulo, os consumidores foram
surpreendidos. “Não sabia que ia fechar. Aí entrei, vi a liquidação e um
funcionário me falou (do encerramento). Comprei mais de dez peças na semana
passada e paguei menos de R$ 300, com 50% de desconto. Voltei agora para
comprar mais umas camisas”, disse a advogada Luíza Maria Mello, 25 anos.
Na loja, camisetas eram vendidas por R$ 40. Vestidos tinham
sido remarcados de R$ 59 para R$ 15. Regatas estavam até por R$ 5. “Acho ruim
fechar”, afirmou Victor Antonelli, analista de risco. “São poucas as lojas como
essa, com variedade e preço baixo.”
Trabalho escravo
Em 2012, o Ministério do Trabalho dos EUA disse ter
encontrado oficinas de fornecedores da Forever 21 em condições de trabalho
análogo à escravidão em Los Angeles, na Califórnia, onde fica a sede da
empresa. A rede disse, porém, que esses problemas teriam sido resolvidos
naquele mesmo ano. Segundo a revista Forbes, a empresa também já foi processada
mais de 50 vezes por violar direitos autorais. Procurada, a Forever 21, tanto
no Brasil quanto nos EUA, não respondeu à reportagem.
A professora de inglês Bettina Oliveira, que foi à
liquidação e comprou um vestido de R$ 129 por R$ 75, disse que não era cliente
da loja por questões como essas. “Não vou sentir falta. Além de tudo isso, a
modelagem é sempre feita para pessoas muito pequenas e magras.”
Cenário
Boa parte dos consumidores hoje é mais seletiva e não gasta
mais tanto com o chamado fast fashion. E quem gosta desse tipo de moda, lembra
o especialista em varejo Sandro Magaldi, prefere a internet, com plataformas
como Shopee e Shein, de preços mais baixos. Além disso, existe o movimento
contrário, o slow fashion, pelo qual o consumidor prefere pagar um preço maior
em roupas de melhor qualidade.
Assim, a companhia está em recuperação judicial nos EUA
desde setembro de 2019. Na época, o motivo alegado foi a concorrência entre as
lojas de rua e o e-commerce. Com 800 lojas nos EUA, Ásia, Europa e América
Latina, a varejista recorreu ao Capítulo 11 da Lei de Falências americana, que
permite manter o controle e posse de seus bens enquanto administra uma
reestruturação.
Na semana passada, o Authentic Brands Group (ABG), empresa
global de desenvolvimento de marcas, anunciou a compra da Forever 21. Outra
acionista da empresa é o fundo Brookfield Property Partners.
Aqui, o caldo começou a entornar no ano passado, quando a
marca virou alvo de ações judiciais movidas por shoppings cobrando aluguéis em
atraso. Sem acordos, a empresa de moda fechou no começo de 2021 todas as 11
lojas nos shoppings da rede Multiplan, entre elas, as dos shoppings Morumbi,
Vila Olímpia e Anália Franco (São Paulo), Brasília, Ribeirão Preto (SP) e
Canoas (RS). Procurada, a Multiplan não quis comentar o assunto.
Meses depois, a Justiça do Rio de Janeiro acatou pedido do
shopping RioSul (administrado pela Combrascan) e deu 30 dias de prazo para que
a marca deixasse o local. O despejo foi realizado. Procurado, o RioSul disse
que não divulga detalhes de negociações comerciais.
Havia, pelo menos, mais dois processos por inadimplência no
aluguel, movidos pelos Shopping Tijuca e o Plaza Shopping Niterói, ambos da
BRMalls, que também não quis comentar o assunto. A Associação Brasileira de
Shopping Centers (Abrasce) disse não ter informações sobre se esses casos foram
resolvidos ou não.
Negociação
As lojas da marca eram consideradas “âncora” nos centros de
compra em que atuavam, com áreas de mais de 1.000 m² nos empreendimentos. “Fica
difícil renegociar com uma empresa quando se sabe que a matriz dela está
passando por um processo de recuperação judicial”, diz o presidente da
Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun.
Segundo Sahyoun, a Forever 21 tem hoje 15 lojas no Brasil e
todas devem fechar até domingo. Os funcionários da loja no shopping Bourbon, em
São Paulo, confirmam a informação. A equipe de dez pessoas será demitida ainda
este mês. “Estou aqui há sete anos e nunca achei que isso pudesse acontecer. A
liquidação está indo bem. As prateleiras e cabides vão ser vendidas a outras
empresas. Eu mesmo não sei onde vou trabalhar agora”, disse um
funcionário.
Fonte e Foto: Estadão