Crise leva indústria à maior produtividade desde 2000

13/12/2017

A produtividade da indústria brasileira cresceu 4,6% neste ano, até o terceiro trimestre, e atingiu seu maior patamar desde 2000 –ano de início da série histórica, elaborada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).

 

Trata-se de um salto consideravelmente maior que o dos últimos anos.

 

No acumulado de 2010 a 2015, o aumento de produtividade havia sido de apenas 1,3%. Em 2016, a alta já apresentava uma aceleração, embora ainda tímida, com 1,6% de avanço no ano.

 

O índice considera o volume de produção dividido pelo total de horas trabalhadas.

 

O prolongamento da crise econômica forçou as empresas a investir em ganhos de eficiência, afirma o gerente-executivo da confederação Renato da Fonseca.

 

"Houve muito investimento em melhorias de gestão e em digitalização, que não requerem aportes financeiros elevados. São áreas em que as empresas brasileiras têm grande deficiência", diz ele.

 

A capacidade ociosa, decorrente da baixa demanda dos últimos anos, também facilitou as mudanças de processos internos. "Quando as fábricas operam em sua totalidade, fazer esse tipo de alteração implica dias parados, então muitos postergaram as melhorias."

 

FÔLEGO EXTRA

Apesar do resultado positivo, o Brasil continua atrás de concorrentes globais.

 

Entre 2006 e 2016, a indústria nacional teve queda de 7,8% em sua produtividade relativa –índice que compara o desempenho brasileiro com seus dez maiores parceiros comerciais. No acumulado de 2000 a 2016, a retração chegou a 25,8%.

 

Há dúvida se o país terá fôlego para seguir aumentando sua produtividade a ponto de alcançar concorrentes como Argentina e México, que evoluíram a taxas mais elevadas nas últimas décadas, afirma Fonseca.

 

"No próximo ano, o índice deverá continuar crescendo, mas ainda é cedo para projetar em que ritmo isso vai ocorrer", diz ele.

 

ENTRAVES

As principais limitações para o avanço da produtividade brasileira são a falta de recursos para investimentos mais volumosos –em robotização e maquinário, por exemplo– e escassez de mão de obra qualificada para trabalhar com novas tecnologias que, cada vez mais, passam a determinar a eficiência das fábricas.

 

"É um desafio para o país, porque a maneira de produzir está passando por mudanças que vão precisar de habilidades que nem sequer são ensinadas hoje", diz Paulo Mól, coordenador do projeto "Indústria 2027", que avalia o impacto de inovações tecnológicas no setor.

 

"Temos universidades de qualidade como a USP [Universidade de São Paulo], capazes de suprir essa demanda, mas elas precisam estar alinhadas com o mercado."

 

Hoje, apenas 1,6% das indústrias brasileiras possuem mecanismos totalmente conectados e inteligentes –a chamada indústria 4.0–, aponta outra pesquisa da CNI. Em um prazo de dez anos, a porcentagem poderá chegar até 28,1%, segundo projeção das empresas.

 

Sem uma evolução da qualidade da mão de obra no Brasil, a tendência é que, nos próximos anos, a produtividade volte a desacelerar.

 

"É o que ocorreu no passado: quando havia pleno emprego, a indústria teve que contratar pessoas com menor qualificação, o que reduziu o nível. Enquanto houver uma falha na educação, haverá um limite para o avanço da produtividade. E, infelizmente, isso não vai se resolver nos próximos cinco anos no Brasil", afirma Fonseca.

 

Fonte: Folha de S.Paulo