Doria amplia distância entre bancas e retira 'puxadinhos' da rua 25 de Março

21/08/2017


A camelô Clara Lopes, 44, diz que recebeu neste ano uma notificação para pagamento de uma multa de R$ 600. Motivo: excesso de mercadorias expostas, ultrapassando as dimensões previstas na banca legalizada em que trabalha na rua 25 de Março, famosa via comercial do centro de São Paulo.

 

A punição é parte de uma decisão da gestão do prefeito João Doria (PSDB) de aumentar a fiscalização ao comércio ambulante.

 

Para isso, alterou a disposição das 66 bancas com autorização de uso na rua e mandou retirar os chamados "puxadinhos" das barracas.

 

Para os ambulantes, a medida até deixou as bancas de produtos mais vistosas, já que agora guardam espaço de três metros entre uma e outra –antes elas eram quase coladas umas às outras.

 

No entanto, tiveram redução do espaço para expor suas mercadorias na comparação com gestões passadas, além de não poderem usar objetos como guarda-sol para se proteger do calor.

 

Segundo o prefeito regional da Sé, Eduardo Odloak, o que esta sendo feito é basicamente respeitar uma lei de 1991 (atualizada em decreto de 2001) que regulamenta o comércio ambulante na cidade. As bancas devem ter 1,2 m², segundo a lei. No entanto, eram comuns os chamados "puxadinhos".

 

"Eles [camelôs] até respeitavam as medidas, mas puxavam uma gaveta daqui, outra dali. Cada vez que eles abriam esses avançados, triplicava a barraca de tamanho", disse o prefeito regional.

 

Ele afirmou que outro problema era o volume exagerado de mercadorias. "Eles colocavam 200 ou 300 bolsas à venda, e a banca virava um monstro", disse Odloak.

 

Além disso, a maioria das barracas foi trocada de lugar. Isso porque várias delas estavam em esquinas, na frente de bancos ou em faixas de pedestres, o que é proibido.

 

A maioria dos TPUs (Termo de Permissão de Uso) da 25 hoje pertence a pessoas com deficiência, que podem ter até dois assistentes para atuar ali. A ambulante Isabel Menezes é uma dessas auxiliares.

 

"As barracas ficaram mais abertas, o cliente vê melhor. Mas deviam liberar pelo menos o guarda-sol. Em dia de sol é terrível", disse ela, que vende bichos de pelúcia. "Toda vez que troca o prefeito querem mostrar alguma coisa e mudam as coisas aqui."

 

Para Roberto Batista, 39, que acumula 17 anos de trabalho na 25 de Março, a mudança "acabou com a favela".

 

"As barracas estavam muito cheias mesmo, e uma grudada na outra", disse ele, que também é funcionário da banca em que vende de adesivos para unhas aos spinners –brinquedos que são febre entre crianças e adolescentes.

 

Embora tenha só 66 bancas legalizadas, a 25 de Março continua ocupada por camelôs ilegais. São aqueles que estendem lonas nas calçadas para expor de meias a brinquedos. Ao menor sinal da fiscalização, apelidada de "rapa", correm com os objetos.

 

A gestão diz que a fiscalização foi intensificada e o número de apreensões de produtos piratas ou sem nota passou de 1.500 para 6.000 mensais.

 

Fonte: Folha de S.Paulo