Centros para idosos têm maior procura nas férias e até videogame para terapia

11/07/2017


Passar as tardes dançando, fazendo exercícios, conversando com amigos e até jogando boliche em um videogame. Faz duas semanas que esse é o agitado dia a dia de Maria Eugênia de Carvalho, 79, que começou a frequentar uma unidade particular de um centro-dia para idosos (CDI).

 

Os serviços de atenção diurna aos idosos, voltados a pessoas com algum grau de dependência, física ou cognitiva, ficam mais movimentados no período de férias.

 

Segundo a empresa Cora, no fim de ano a procura pelo serviço cresce cerca de 50%. No mês de julho, ela espera crescimento de 30% no número de idosos que passam o dia na instituição e voltam para casa à noite.

 

"Nessa época há uma mudança na conjuntura familiar. Você precisa dedicar um pouco mais de tempo para outras atribuições com filhos, para citar um exemplo", diz Rodrigo da Costa, geriatra da Cora Residencial Senior.

 

O serviço também ajuda os idosos a continuar a prática de exercícios apesar das desanimadoras baixas temperaturas do inverno.

 

Maria Eugênia, que é psicopedagoga aposentada, teve problemas no joelho e em um tendão da perna esquerda, mas no centro-dia não deixa de dançar e fazer exercícios, ainda que com alguma dificuldade "Esse meu joelho é terrível", diz ela.

 

"As pessoas que já estão habituadas continuam frequentando e reforçamos os cuidados e manejo em relação ao frio. Mas as pessoas que pretendem começar têm mais resistência em sair de casa", lembra Vanessa Mutchnik, mestre em gerontologia e proprietária do Centro Dia para Idosos Pasárgada, no bairro da Aclimação, em São Paulo.

 

A maior procura pelo serviço também acompanha o crescimento da população idosa (com 60 anos ou mais) do Brasil, que se encontra em transição demográfica.

 

Dados do IBGE apontam que, em 2030, o número de idosos já terá superado o de crianças e adolescentes em mais de 2 milhões de pessoas. Em 2050, serão cerca de 30 milhões a mais de idosos em relação a crianças no país, o que significa que quase 30% da população terá 60 anos ou mais

 

"Vai haver cada vez mais demanda por cuidadores", diz. "Na Europa e EUA já são muito presentes os centros e essa forma de cuidar", diz Alexandre Busse, geriatra do Hospital das Clínicas da USP.

 

O serviço é relativamente recente no Brasil, com inauguração de diversos centros, tanto públicos quanto privados, nos últimos anos. O primeiro CDI da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, foi inaugurado em setembro de 2015, no Bom Retiro, região central da cidade. Hoje são 16.

 

Nos serviços privados, os serviços vão de cerca de R$ 150 (uma diária) até quase R$ 5.000 para um mês inteiro.

 

Segundo Busse, além dos cuidados de saúde com os idosos, os CDIs podem ser importantes para o estímulo cognitivo, físico e social, que podem servir como formas de prevenção. Os serviços contam com equipes multidisciplinares, que incluem psicólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, alimentação, oficinas, atividades manuais e exercícios físicos.

 

"Após a aposentadoria, se a pessoa não tem outra coisa que preencha a vida, que faça ela se sentir útil para a sociedade, ela vai 'atrofiando'", afirma Busse.

 

ATIVIDADE

 

Os idosos que frequentam os CDI têm um certo grau de autonomia, mas ainda precisam de ajuda para atividades do dia a dia para não correr riscos ao ficar desamparados.

 

"Vim para cá porque meu filho é muito preocupado com minha idade, por eu ter me aposentado e estar mais parada", diz Maria Eugênia, após se exercitar na Cora.

 

A pedagoga aposentada Maria Páscoa, 75, frequenta um CDI junto com seu marido. Toda quarta-feira, eles chegam para a primeira refeição da manhã –"porque está incluso no preço e dispensa o trabalho de fazer o café em casa"– e passam o dia todo fazendo atividades.

 

Os dois estão testando a Cora para ver se se mudam em definitivo para a residência para idosos, por todo o trabalho envolvido na manutenção do apartamento onde moram sozinhos.

 

O geriatra do HC também alerta para a superproteção aos idosos, um grupo tão heterogêneo quanto a população de qualquer outra idade.

 

"Vemos idosos que têm a sua independência, que se movimentam bem, mas que são restritos pelos filhos. Eles dizem: 'Pode deixar que eu faço as suas compras, pode deixar que eu vou ao banco.' Isso também não faz bem", afirma Busse. 

 

Fonte: Folha de SP