Jovem de 17 anos estampa currículo em Coca-Cola e é chamada para entrevista

29/06/2017


Com 14 milhões de desempregados, fisgar a atenção de um selecionador apenas com o currículo é uma tarefa árdua até para o mais experiente dos profissionais. E o que dizer de uma jovem de 17 anos, que ficou apenas 1 mês em sua até então única experiência de trabalho e está de olho em uma vaga concorrida de uma multinacional ligada ao mercado da internet?

 

Essa é a história da paulista Beatriz Carmona, que mora em Barueri, na Grande São Paulo. Sabedora do desafio para se destacar em um processo seletivo, ela apostou na criatividade. Estampou seu currículo no rótulo de uma Coca-Cola, endereçou para o responsável pela seleção e entregou o presente na recepção da empresa, tomando o cuidado de documentar todos os passos em um post no Facebook. Deu certo.

 

A história foi publicada em uma quinta-feira, dia 22 de junho, e 24 horas depois já tinha caído nas graças dos internautas. Em menos de uma semana o post foi curtido por quase 8 mil pessoas e compartilhado mais de 6 mil vezes. Surgiu até uma campanha virtual, a #boasortebeatriz. E, assim, a história foi passada de perfil em perfil da rede social até que apareceu no computador do diretor de recursos humanos da americana Reach local, a empresa que foi alvo da ação da garota. 

 

Como o executivo estava viajando, ele não recebeu a Coca-Cola de presente deixada por Beatriz. Mas três dias depois, em pleno domingo, ele conseguiu o contato da jovem e marcou uma entrevista pessoal, que aconteceu nesta terça-feira, 27.

 

"Por ser uma empresa de marketing digital, a Reach local recebe muitos currículos criativos. Mas eu nunca tinha visto nada parecido com o que fez a Beatriz", conta o executivo Flávio Pelizari.

 

Para conseguir a entrevista, Beatriz desbancou 320 candidatos. É quatro vezes mais gente do que o vestibular mais concorrido do Brasil, para o curso de medicina da USP, que tem uma relação de 71,93 candidatos por vaga.

 

"Eu nem acreditei quando ele me ligou", conta Beatriz, que diz que gastou R$ 30 com todo o processo, entre impressão do rótulo em uma gráfica, a Coca-Cola de 2,5 litros e ônibus para entregar o presente. "O mais difícil é que eu peguei dinheiro da minha avó para comprar a Coca e, chegando em casa, meu irmão foi lá e tomou sem querer. Eu fiquei desanimada", lembra ela, que diz precisar do emprego justamente para ajudar a família. 

 

Beatriz mora com outros dois irmãos e uma cunhada com a avó e, hoje, todos dependem da aposentadoria da matriarca, que recebe R$ 1.750 por mês de benefício previdenciário. "A Coca-Cola custou R$ 9, a gente não tem o hábito de comprar", afirma.

 

Tentar tudo. Beatriz conta que a inspiração para sua ideia veio de um publicitário lituano que, para conseguir emprego em São Francisco, na Califórnia, colou seu currículo em uma caixa de rosquinhas.

 

"Eu mandei meu currículo, mas o tempo foi passando e senti que não ia conseguir. Como tinha visto essa história, de um publicitário que se chama Lukas Yla, pensei em criar coragem e fazer algo parecido", conta.

 

Perguntado sobre o futuro da candidata, Flávio Pelizari não se compromete. "Vamos conhecer os candidatos e selecionar talvez dois para a vaga. Quem tiver mais perfil, vai ser contratado", conta.

 

O cargo de jovem aprendiz na empresa tem jornada de 120 horas mensais e salário de R$ 800. 

 

Fonte: Estadão