14 perguntas e respostas sobre a Operação Carne Fraca

21/03/2017

1 - O QUE É A OPERAÇÃO CARNE FRACA?

Deflagrada na última sexta-feira, 17, pela Polícia Federal, após uma denúncia contra um frigorífico no Paraná, a Operação Carne Fraca investiga um esquema de facilitação de liberação de produtos adulterados, por parte de fiscais do Ministério da Agricultura, que, com o pagamento de propina emitiam certificados sanitários sem fiscalização. Alguns dos maiores frigoríficos do País, como JBS (dona das marcas Friboi e Seara) e BRF (que detém as marcas Sadia e Perdigão), são alvo da operação.

 

2 - O CONSUMIDOR DEVE DEIXAR DE COMPRAR CARNE?

Não há recomendação oficial para suspender o consumo. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) recomenda que se priorize alimentos in natura, ou minimamente processados e não embalados, e lembra que a carne imprópria para consumo costuma ter cor, odor e textura alterados. Ao comprar embalados, a orientação é evitar itens produzidos há muito tempo, ainda que dentro da validade.

 

3 - OS PRODUTOS SOB SUSPEITA SERÃO RECOLHIDOS?

O Idec encaminhou uma carta ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitando o recolhimento de mercadorias fabricadas por frigoríficos citados na operação. O instituto solicita, ainda, que sejam divulgados dados que identifiquem produtos fraudados, como a descrição das marcas, lotes e locais de apreensão.

 

4 - PEDAÇOS DE PAPELÃO FORAM ENCONTRADOS NAS CARNES?

De acordo com a PF, parte das carnes era misturada com papelão. A BRF disse que se trata de um mal-entendido e que o funcionário gravado na investigação estava se referindo às embalagens, e não ao conteúdo. Para o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, é “idiotice” achar que os produtores misturariam papelão à carne.

 

5 - QUE OUTROS PROBLEMAS AS INVESTIGAÇÕES APONTAM?

A PF afirma que, nas gravações, sócios de um frigorífico falam sobre o uso de carne de cabeça de porco na produção de embutidos - o que, segundo a polícia, é proibido. O ministro da Agricultura afirmou que o uso de carne de cabeça de porco, em determinados porcentuais e em alguns produtos, é permitido. Segundo as investigações, fiscais também teriam descoberto frangos com absorção de água superior ao permitido, uma prática que não chega a prejudicar a saúde, mas é considerada fraudulenta. No despacho da Justiça, são feitos relatos de uso de ácido ascórbico (vitamina C) pelo frigorífico Peccin.

 

6 - HAVIA PRODUTOS COM A BACTÉRIA SALMONELA?

Segundo a Polícia Federal, a partir de áudios da investigação, havia carnes da BRF contaminadas com salmonela que seriam exportadas para a Europa. No entanto, a empresa afirma que o tipo de bactéria encontrado em alguns lotes de quatro contêineres (Salmonella Saint Paul) é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura o que, portanto, não levaria à proibição.

 

7 - COMO O GOVERNO REAGIU?

Após divulgada a ação, o governo reiterou a confiança na qualidade do produto nacional, disse que iria acelerar o processo de auditoria nos estabelecimentos investigados pela Polícia Federal e que as plantas exportadoras estariam abertas para inspeções estrangeiras. Ainda assim, países importadores anunciaram restrições a produtos brasileiros.

 

8 - QUAIS OS PRINCIPAIS RISCOS À SAÚDE ASSOCIADOS AO CONSUMO DE CARNES ESTRAGADAS?

O principal problema são as infecções gastrointestinais causadas por bactérias presentes em carnes deterioradas e fora do prazo de validade, como as do gênero salmonella. Se a carne estiver putrefata (podre), o risco de problemas de saúde graves é ainda maior, pois as bactérias presentes nessas condições costumam ser mais resistentes e provocar diarreias persistentes. 

 

9 - O CONSUMO DE CARNE CONTAMINADA POR BACTÉRIAS DO GÊNERO SALMONELLA SEMPRE LEVA A INFECÇÕES GRAVES?

Não necessariamente. Existem milhares de tipos de bactérias do gênero salmonella. Dois tipos são considerados mais prejudiciais à saúde pública: Salmonella Typhimurum e Salmonella Enteritidis. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a salmonella é uma bactéria comum no trato gastrointestinal dos animais e, no caso das aves, trat-se de um problema global, para o qual não existem medidas efetivas de controle que possam eliminá-la da carne crua. O ministério ressalta que o processo de cozimento da carne é suficiente para matar esse micro-organismo.

 

10 - PESSOAS QUE CONSUMIRAM CARNE DETERIORADA PODERÃO DESENVOLVER ALGUM TIPO DE CÂNCER?

É improvável. A maior parte dos tipos de tumor ocorre quando a pessoa se expõe ao agente cancerígeno por um longo período de tempo. Assim, para que aditivos e conservantes usados nas carnes provoquem câncer, seria necessário o consumo frequente e prolongado do alimento estragado. É bom lembrar, no entanto, que o próprio consumo exagerado de carne vermelha (mesmo de boa qualidade) e de alimentos embutidos ou com alto teor de corantes e conservantes está associado a maior risco de tumores de intestino, estômago, mama e próstata.

 

11 - O USO DE ÁCIDO ASCÓRBICO (VITAMINA C) COMO CONSERVANTE NAS CARNES É PROIBIDO NO BRASIL? ELE ESTÁ ASSOCIADO A MAIOR RISCO DE CÂNCER?

A utilização dessa substância é permitida no País como aditivo alimentar e, no caso das carnes, tem função de antioxidante, sem restrições quanto ao limite de uso, segundo o Ministério da Agricultura. Conservantes, quando consumidos por um longo período e em grandes quantidades, estão também associados a um maior risco de câncer, mas não há nenhum estudo que comprove a relação entre o uso de ácido ascórbico e o aparecimento de tumores.

 

12 - COMO MINIMIZAR O RISCO DE SER CONTAMINADO POR UMA BACTÉRIA AO CONSUMIR CARNES?

A principal orientação dos especialistas é consumir carne bem cozida, grelhada ou assada. As altas temperaturas utilizadas nesses processos são capazes de matar as bactérias que podem causar infecções. O consumo de carne mal passada não é recomendável para as pessoas.

 

13 - QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS SINAIS DE QUE A CARNE PODE ESTAR DETERIORADA?

Primeiro, é preciso observar a coloração: se ela estiver amarelada, esverdeada ou acinzentada, é sinal de que não está boa para consumo. A segunda característica a ser notada é a textura. Ela não deve estar muito viscosa ou escorregadia. Por fim, se o alimento tiver odor ruim, é possível que ele já esteja contaminado.

 

14 - HÁ EXAGERO NA DIVULGAÇÃO?

Na avaliação de entidades do setor, houve descuido por parte da Polícia Federal, que defende a operação. Para Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), a divulgação provocou danos ao setor. O Ministério da Agricultura se queixou de que não foi consultado pelos policiais e que poderia ter esclarecido pontos considerados irregulares, mas que seriam práticas permitidas

 

Fonte: Estadão