Após dois anos, comer dentro e fora de casa vai pesar menos no bolso

20/03/2017


Com a maior oferta de alimentos graças à supersafra e a desaceleração no preço dos serviços, comer dentro e fora de casa deve subir menos em 2017, garantem especialistas.

 

Fábio Romão, economista da consultoria LCA, acredita que o preço da alimentação em casa terá uma alta de 4,7%, a menor valor desde 2009. A projeção do economista representa uma desaceleração do ritmo de alta em 32%, já que a alimentação em casa teve alta de 9,36% em 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Ainda não vai compensar as altas anteriores, mas vai desacelerar e se posicionar próximo à inflação, projetada para 4,66%, o que é um ganho importante para o consumidor”, diz.

 

Já para o preço da alimentação fora de casa, a expectativa da LCA é de alta de 6% em 2017 ante um avanço de 7,22% visto em 2016. A alimentação fora de casa varia mais do que a alimentação em casa porque está ligada não só à oferta de alimentos, mas também ao lazer, ou seja, à decisão de comer na rua

 

Em 2015 e 2016, a refeição fora do lar teve uma variação menor de preço do que comer em casa, o que não costuma ser visto.

 

Segundo Romão, isso ocorreu por causa do momento econômico, que acarretou, entre outros fatores, o encolhimento do mercado consumidor. Nestas condições, os donos de restaurantes não tiveram espaço para mexer nos preços e fizeram até promoções. Em 2017, além da ajuda da safra, é prevista uma estabilização da economia, o que deve fazer com que a alimentação fora de casa retorne à dinâmica “normal”, com os preços variando mais do que a alimentação em casa.

 

O economista da Infinity Asset, Jason Vieira, alerta que ainda não será visto um processo de deflação nos alimentos, quando há uma queda generalizada de preços, por causa de fatores como a demanda e fenômenos climáticos, que mantêm o preço em alta. Vieira projeta uma alta de 0,28% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril e alta de 0,12% no grupo de Alimentos.

 

A grande questão é se as projeções vão se refletir no prato do consumidor. Para Paula Cavagnari, diretora-presidente Associação das Empresas de Refeição e Alimentação (Assert), o preço médio da refeição completa pode cair após três altas consecutivas.

 

Pesquisa da Assert mostra que o preço médio da refeição em 2016 foi 8% mais caro que em 2015. “A tendência agora é de queda porque esse 8% é maior que a inflação oficial, de 6,29%, apesar de ter acompanhado o aumento do grupo alimentação”, explica Cavagnari.

 

No bolso. Em 2016, o consumidor desembolsou, em média, R$ 32,94 por uma refeição completa (prato principal, bebida, sobremesa e café). O valor foi de R$ 30,48 em 2015 e de R$ 27,36 em 2014.

 

Em algumas cidades, o consumidor pagou bem mais que a média. Foi o caso de Florianópolis (R$ 43,53), Vila Velha (R$ 37,49) e São Luís (R$ 36,96). Paula, da Assert, explica que esse número é composto, entre outros fatores, pelo alto custo da logística, dos alimentos, de vida e aluguel dessas cidades.

 

Por outro lado, os consumidores de São José dos Pinhais e Uberlândia pagaram mais barato pela refeição: R$ 23,08 e R$ 24,64, respectivamente. O estudo foi feito de 11 a 28 de novembro, em 4.574 estabelecimentos que aceitam vale-refeição.

 

A pesquisa da Assert, conduzida pelo Instituto Datafolha, também apontou um aumento dos estabelecimentos com autosserviço, o self-service. Em 2016, 58% dos restaurantes pesquisados foram desse tipo, ante 54% em 2015. Paula explica que esse aumento reflete a preocupação dos donos em atender uma clientela que busca preços menores para se alimentar.

 

O peso da crise no bolso e no prato em 2014 e 2015, porém, não fez com que o consumidor administrasse os gastos na alimentação fora de casa.

 

Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que uma em cada cinco pessoas que possuem vale restaurante e/ou alimentação não controlam os gastos feitos com essa modalidade. Outros 27% admitem extrapolar o valor antes da recarga da empresa, sendo necessário complementar o total.

 

O conhecido “VR” deveria ser um aliado do brasileiro, já que dá um alívio ao bolso e permite fácil controle de gastos. A economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti, pondera que “o brasileiro tende a deixar de lado o controle financeiro”.

 

O benefício é viabilizado por meio do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), do Ministério do Trabalho, que complementa a alimentação do trabalhador em parceria com as empresas.

 

Fonte: Estadão